26 de abril de 2010

O JULGAMENTO

Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco... Reis lhe ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:

- Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?

O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e algumas pessoas lhe disseram:

- Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!

O velho disse:

- Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato; O resto é julgamento. Trata-se de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um fragmento. Quem pode saber o que vai se seguir?

As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso: ele trouxe uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente as pessoas se reuniram e lhe disseram:

- Velho você estava certo, não se trata de uma desgraça; na verdade provou ser uma benção.

O velho disse:

- Novamente vocês estão se adiantando. Apenas digam que o cavalo está de volta... Quem sabe se é uma benção ou não? Este é apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença e como pode julgar tanto o livro?

Dessa vez as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo... O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde ele caiu de um cavalo, fraturou a coluna e ficou paralítico. Novamente as pessoas se reuniram e mais uma vez, o julgaram. Elas disseram:

- Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas e na sua velhice ele era o seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.

O velho disse:

- Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos, mais que isso nunca é dado.

Aconteceu que, depois de algumas semanas o país entrou em guerra e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, porque era aleijado. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se, porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria.

Elas vieram até o velho e disseram:

- Você tinha razão velho, aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre.

O velho disse mais uma vez:

- Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi; mas somente Deus, a totalidade, sabe se isso é uma benção ou uma desgraça.

E continuou:

- Não julguem, porque dessa maneira jamais se tornaram unidos com a totalidade. Vocês ficaram obcecados com fragmentos, pularão para as conclusões a partir de coisas pequenas. Quando alguém julga, deixa de crescer. Julgamento significa um estado mental estagnado. E a mente sempre deseja julgar, porque estar em processo é sempre arriscado e desconfortável. Na verdade, a jornada nunca chega ao fim.

Um caminho termina, outro começa; uma porta se fecha e outra se abre. Atinge-se um pico; sempre existe um pico mais alto. Somente os que são muito corajosos, não se importando com a meta e se contentando com a jornada, satisfeitos simplesmente de viver o momento e de nele crescer... Somente estes são capazes de caminhar com a totalidade.
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2 comentários:

Anônimo disse...

A vida é assim.
As coisas acontecem porque tem que acontecer.
Simples.
Não existe nada de mais.
Bençãos não tem qualquer força, além de agradar quem deu a benção.

Anônimo disse...

O gostoso da vida é que ela é eterna. Jesus é a vida eterna. Ai meu Deus, isso é para os ateus.