4 de maio de 2012

ÔNIBUS DO FIM DO MUNDO

Eduardo CostaDe novo, os ônibus estiveram nas páginas dos jornais durante essa semana. Houve um, em Esmeraldas, que perdeu os freios numa descida acentuadíssima, mas, guiado por Deus, o motorista jogou o veículo contra um barranco e transformou mais uma tragédia de consequências imensuráveis em colisão com alguns feridos. 
Também foi nessa semana que a BHTrans admitiu: dos 9 mil pontos de ônibus em Belo Horizonte, apenas 2 mil têm algum tipo de abrigo. Ainda assim, abrigos que geram queixas, ora porque são pequenos, às vezes por estarem em péssimas condições e, não duvide, há também o caso de um abrigo que não abriga - ele fica ali, na Praça da Estação, e limita-se a alguns ferros chumbados no chão que nunca receberam cobertura. 
Os usuários? Bom, esfriam o sol e enxugam a chuva, dependendo do dia. E você deve estar ansioso, perguntando qual é, afinal, o ônibus do fim do mundo? Ele não está entre os que milhões de mineiros usam todos os dias, pelos quais pagam caro e são quase sempre mal tratados. Sequer é um ônibus que pertence à iniciativa privada. 
Bom, depois desta pista, você já tem aposta certa: deve ser uma daquelas "forrecas" que transportam crianças pobres por ruas de terra e lugares inacreditáveis pelo interior de Minas... Também não. O ônibus do fim do mundo pertence à Polícia Militar de Minas Gerais e foi visto estacionado em frente à Delegacia de Vespasiano, cidade da região metropolitana, na última segunda-feira. Embora o veículo tenha sido fabricado há pouco tempo, ele é reflexo do desmonte do sistema punitivo em Minas. 
A Polícia Civil vem se acabando há décadas e, agora, para um feriado de quatro dias, convergiu o plantão de 11 municípios - com uma população de cerca de 400 mil pessoas - em uma delegacia de Vespasiano, com um delegado, um escrivão e quatro investigadores. A PM, que já não aguenta mais tanta demora na recepção das ocorrências nas delegacias, resolveu colocar um ônibus no meio da rua... 
Assim, na medida em que as patrulhas chegavam, seus ocupantes algemavam os presos em bancos do ônibus e os deixavam sob a custódia de três soldados, que ficavam encarregados também de entregar as ocorrências quando alguém pudesse receber. Eu sei que é difícil de acreditar, mas, quem duvidar, pode conferir na Rede Record que tem imagens de 17 "conduzidos" algemados no ônibus do fim do mundo... Ou do fim dos tempos!
Eduardo Costa escreve neste espaço às segundas, quartas e sextas-feiras.
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