Doze anos após ter sido demitido por causa da greve da polícia em 2001, o ex-sindicalista Crispiniano Daltro obteve a reintegração "em definitivo" ao cargo de investigador de Polícia Civil, em ato homologado pelo governador Jaques Wagner na sexta, 13 de abril. Daltro presidiu o Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipoc) durante 12 anos. Era filiado ao PT e um opositor ferrenho do "carlismo". Ele participou da campanha que elegeu Wagner em 2006, mas depois se decepcionou com o governo petista, a ponto de pedir desfiliação do partido e deixar o sindicalismo.
A situação do ex-presidente do Sindipoc era difícil de explicar judicialmente. Ele obteve, em 3 de outubro de 2002, decisão favorável do Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia, para que fosse reintegrado. O governador da época, César Borges, recusou-se a cumprir a decisão, mas, como havia o risco de prisão por não acatar uma determinação judicial, resolveu baixar um ato para "reintegrar provisoriamente" Daltro, que foi "encostado" no serviço público, sem função específica.
Sal faz mal
Quando Wagner se elegeu, ele e os outros demitidos na greve de 2001 tinham certeza de que seriam reintegrados, mesmo porque tratava-se de promessa de campanha. Os sindicalistas gostavam de lembrar as palavras de Wagner segundo a qual iria governar com quem havia "comido sal e tomado poeira" com ele na oposição ao grupo do então senador Antonio Carlos Magalhães.
Apesar das promessas, o governador não reintegrou os demitidos, mesmo com decisões favoráveis da Justiça e anistia concedida pela Presidência da República.
"Não comi sal porque sou hipertenso, mas tomei muita poeira", afirma em tom de brincadeira Daltro, explicando que o governador mudou de ideia em relação ao caso dele. "Em junho de 2012 enviei uma carta ao governador expondo a minha situação sui generis, anexando a decisão do TJ-BA. Dessa vez ele foi compreensivo, me encaminhou ao secretário da Administração, Manoel Vitório, e o caso foi analisado pela Procuradoria Geral do Estado que deu o sinal verde", disse Daltro.
Ele retoma sua antiga função neste mês, lotado na delegacia de Conceição do Coité. "Concordei em me mudar para lá para recomeçar minha vida e reconstruir minha imagem que ficou desgastada pela meu radicalismo da época do Sindipoc", contou, com certa mágoa não só do PT, mas dos colegas sindicalistas que "aderiram" ao sistema. "Muitos arrumaram um carguinho no governo e abandonaram a luta sindical", critica.
PMs ainda aguardam reintegração -
Cinco policiais militares demitidos em consequência da greve de 2001 ainda lutam pela reintegração. Um deles, o vereador-soldado Marcos Prisco (PSDB) lembra que tem seis decisões judiciais favoráveis à sua causa. "São quatro no Tribunal de Justiça da Bahia, uma na Auditoria Militar e outra no Supremo Tribunal Federal, sem falar nas duas anistias, uma concedida pelo ex-presidente Lula e outra pela presidente Dilma", disse. Para ele, a única explicação para ainda não ser reintegrado aos quadros da PM é a "perseguição política".
Prisco se notabilizou em dois momentos marcantes da política baiana. Na primeira campanha de Jaques Wagner, apareceu no programa político do PT exibindo seu contracheque de soldado para mostrar o baixo salário e desgastar o então governador Paulo Souto (PFL) que tentava a reeleição. Em fevereiro de 2012, comandou a greve da Polícia Militar e ocupou a Assembleia Legislativa com um grupo de grevistas. Saiu preso.
Além de Marcos Prisco, faltam ser reintegrados os seguintes demitidos na greve de 2001: os sargentos José Lourenço Dias, Donavan Soares e Cristiano Oliveira e o soldado Luiz Marinho.
Prisco diz que o governo estadual "zomba da Justiça" e lamenta que "nenhum desembargador tenha coragem de decretar a prisão dos responsáveis pelo não-cumprimento das decisões judiciais".
FONTE: A TARDE
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