14 de agosto de 2013

Psicóloga da PMESP diz que “criança pode manusear armas com os pais”

Psicóloga defende que crianças manuseiem arma de fogoEnquanto os olhos do Brasil se voltam para a possibilidade do filho ter matado o casal de policiais em São Paulo é no mínimo polêmica a afirmação da psicóloga do Centro de Apoio Social da PMESP, que entende que policiais devem amenizar a curiosidade dos filhos em relação à arma de fogo ensinando-lhes procedimentos de segurança e procedimentos de manuseio. Discordo. Arma de fogo, parece-me, é equipamento exclusivamente policial, que exige não apenas conhecimento procedimental, mas psicológico, legal etc.
Para que serviriam os exames psicológicos que a Polícia Federal aplica em pretendentes ao portar arma de fogo? Crianças e adolescentes possuem características comportamentais e emocionais que impedem que se admita qualquer contato delas com este tipo de equipamento. Em momentos extremos, em uma briga na escola, por exemplo, será que a arma de fogo dos pais não passa a ser uma possibilidade de resolução do problema (mesmo que o jovem não saiba onde está a arma)? Mantê-la em contato com a arma não aumenta o entendimento de que ele pode utilizá-la?
É o que acho, embora não seja psicólogo. Segue a opinião da especialista:
Para a soldado Rosângela Francisca da Silva Penha, 47, psicóloga do CAS (Centro de Apoio Social) da Polícia Militar de São Paulo, crianças podem manusear armas de fogo, desde que acompanhadas pelos pais.
“O filho do policial tem curiosidade sobre o instrumento de trabalho do pai, assim como o filho do médico tem com o estetoscópio”, afirmou a psicóloga, que atende PMs na corporação há 14 anos. A opinião não é unânime entre psicólogos.
Rosângela diz que a curiosidade sobre os instrumentos de trabalho é natural. “O policial não pode ignorar. Tem que mostrar noções de segurança e responsabilidade, ou a criança vai ficar com essa necessidade.”
Na semana passada, o estudante Marcelo Pesseghini, de 13 anos, se tornou o principal suspeito das mortes do pai, da mãe –ambos policiais militares–, da avó e da tia-avó, na
Brasilândia (zona norte de SP). A polícia acredita que Marcelo se matou com um tiro em seguida.
Para a professora Maria de Lourdes Trassi, supervisora da área de crianças e adolescentes da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, a analogia com o trabalho médico “é complicada”. “O cirurgião pode até dar o estetoscópio, a luva, mas não vai apresentar o bisturi ao filho”, diz.
Ela afirma que elementos associados à violência devem ficar longe do universo infantil. “O argumento dela tem a ver com a corporação na qual ela está, que naturaliza muitas práticas agressivas.”
Em entrevista à Folha publicada na última quinta, o psiquiatra Daniel de Barros, chefe do núcleo forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, disse que ter armas em casa eleva em 30 vezes as chances de um adolescente se matar.
“PUNITIVO E OPRESSOR”
Durante oito anos, a pesquisadora Henriette Morato, do Instituto de Psicologia da USP, trabalhou no 16º batalhão da PM para avaliar o nível de estresse dos policiais.
Segundo a professora, o trabalho dos psicólogos da corporação tem “caráter punitivo e opressor”, porque “se resume a avaliar se os policiais têm ou não condições de continuar trabalhando”.
Henriette diz que seu trabalho ia “na contramão dessa proposta”. “O policial militar de São Paulo é estigmatizado: ele é um defensor encarado como ameaça. A maior preocupação desses policiais é não levar o peso da farda para a família.”
O tenente-coronel Alberto Tamashiro, chefe do CAS, disse que estatísticas sobre os atendimentos psicológicos na PM são confidenciais.
Segundo a PM, os psicólogos do CAS e de 22 núcleos no Estado atuam em três frentes. A primeira é no recrutamento, com testes psicológicos que confirmam ou não a aptidão à profissão.
Os policiais também podem ser encaminhados aos profissionais por seus superiores, após traumas, ameaças ou situação violenta.
A terceira via é a apresentação voluntária para acompanhamento psicológico.
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