5 de novembro de 2014

GASTO PARA PREVENIR É 6% DO CUSTO PARA MANTER TRAFICANTE PRESO

Para especialistas em segurança, somente os pequenos traficantes são detidos no país

BRUNOCRACK
“Eu me envolvi com o crack em 2006 e perdi toda a força para trabalhar. Fui morar na cracolândia, e o único jeito de manter meu vício era vendendo para o traficante. Quando eu conseguia vender mais, ele me dava duas pedras (de crack). A polícia sabia que eu não era traficante, que aquilo era para o meu consumo, mas me prendeu. Dentro da cadeia tinha crime organizado, e me ofereciam quilos de droga quando eu saísse de lá”. - Bruno César Barbosa, ex-dependente

O tráfico de drogas é o principal responsável pelas prisões, mortes e violência no país. Atualmente, os presídios mineiros têm mais de 26 mil enquadrados nessa modalidade – sozinha ou associada com outro delito –, o que representa 32,7% dos cerca de 81,5 mil crimes cometidos pela população carcerária. Para manter esses traficantes presos, o governo do Estado gasta, em média, R$ 624 milhões por ano, levando em conta que cada detento custa R$ 2.000 por mês. No entanto, os recursos para prevenção à criminalidade não têm a mesma grandeza e, em 2013, não chegaram a 6% desse montante – foram investidos cerca de R$ 33,8 milhões.

O poder do tráfico é o tema do terceiro dia da série “Cadeia do Crime”, em que O TEMPO mostra como as deficiências da segurança pública aumentam a violência. Se prende por esse crime no Brasil há 45 anos, desde quando os Estados Unidos declararam “guerra às drogas”, em 1971, e criminalizaram o uso, fazendo com que o consumo e as prisões crescessem bastante. Hoje, em todo o país, há cerca de 200 mil detidos por venda de entorpecentes. “Quase todos os homicídios têm relação com droga e brigas de gangues. Houve um aumento absurdo da criminalidade. O Brasil está gastando muito com o sistema prisional”, afirma o promotor da Coordenação Criminal Estadual, Marcelo Mattar.

Outro viés. O que alguns especialistas destacam é que a maioria dos que estão presos hoje por tráfico foi pega em flagrante praticando delitos para sustentar o vício. “Se todos esses 200 mil (presos no país) fossem mesmo traficantes, não tinha mais tráfico no país, porque estariam todos na prisão. O Brasil precisa mudar a política criminal em relação às drogas e tratá-las como um problema de saúde pública”, analisa o juiz do Maranhão Douglas de Melo Martins, especialista em sistema carcerário.

Escalões - Existem cinco níveis de cargos dentro das organizações criminosas, como explica o promotor da Coordenação Criminal Estadual, Marcelo Mattar. “O primeiro escalão está fora do país, no segundo estão os distribuidores que trazem a droga para o Brasil, os terceiros são os vendedores, como o Fernandinho Beira-Mar. O quarto é o dono e gerente da boca, e o quinto é quem entrega a droga para o usuário, aquele traficante de rua. No Brasil e em Minas só se prende esses dois últimos. Para prender os primeiros é preciso um trabalho de inteligência demorado”, explica.

FONTE: O TEMPO
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