Situações de constrangimento e humilhações acontecem todo
dia dentro das Instituições de Segurança Pública, algumas chegam ao
conhecimento de todos, mas muitas vezes as mulheres que trabalham nesse
segmento são ridicularizadas após denunciar algum fato desse tipo e muitos
outros casos acontecem pelo estado afora sem que tomemos conhecimento, já que
muitas têm medo de denunciarem um superior ou colega e serem perseguidas.
Muitas trabalhadoras do segmento da Segurança Pública são
assediadas e humilhadas no seu ambiente de trabalho e muitas ficam caladas, mas
isso precisa acabar independente de serem homens ou mulheres todos são
policiais que arriscam todos os dias a sua vida em benefício da população, são
cidadãs que saem de casa todos os dias sem a certeza de que voltarão.
Para assegurar os Direitos da Mulher dentro dos Órgãos de
Segurança do Estado de Sergipe foi criada no dia quatro de setembro de 2010, a Associação Integrada
de Mulheres da Segurança Pública em Sergipe- ASIMUSEP-SE.
A Associação pretende reunir mulheres servidoras da Polícia
Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Gu ardas
Municipais, Agentes Prisionais, Cogerp, Defesa Civil e outras servidoras da
área de Segurança Pública e afins para intervir em situações que possam
prejudicar as associadas em suas respectivas áreas de trabalho. Um ponto que
preocupa a Diretoria provisória do órgão é o combate à diferenciação por gênero
que infelizmente ainda ocorre e a adaptação do ambiente de trabalho com
instalações para as integrantes femininas.
O lema da recém criada Associação é uma frase de Boaventura
de Souza Santos Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos
inferioriza e temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos
descaracteriza”. Frase que para a presidente da diretoria provisória da
organização, a policial militar Svetlana Barbosa da Silva, define bem o papel a
ser desempenhado pela ASIMUSEP-SE “não queremos ser melhores nem piores,
queremos ter as diferenças respeitadas para que a cada dia sejamos mais
iguais”.
Segue abaixo alguns depoimentos de mulheres Policiais
Militares que passaram por constrangimentos bastante reais, diferentemente do
que afirma a PM5, e algumas tem conseqüências até hoje, por motivos óbvios foi
omitida a identificação.
Humilhação para mulheres em teste admissional para a Polícia
Militar- Policial Militar , turma 2006- Quando foi lançado o edital do concurso
para a Policia Militar do Estado de
Sergipe no ano de 2005, além da realização da prova teórica os candidatos
passaram também pelos exames de Saúde, Aptidão Física, Psicológico e Avaliação
Social.Neste concurso 10% das vagas foram destinadas a mulheres.
Durante os exames de saúde as candidatas aprovadas para a
segunda turma do concurso, tínhamos que ser avaliadas por uma junta médica
entrando na sala de dez em dez. Nós tínhamos que tirar a roupa e ficar de short
e top, o único problema é que esta avaliação não foi descrita no edital do
concurso, sendo assim a maioria de nós não saímos de casa preparadas para
realização dessa avaliação e não estávamos usando shorts por baixo das roupas e
outras sequer estavam de sutiã, tendo dessa forma que ficar apenas de calcinha,
ainda tentamos questionar, perguntando se não poderia ser feito outro dia o
exame para que pudéssemos vestir algo mais adequado, existem oficiais médicas
na PM mas os médicos eram todos homens, eles informaram que a data não podia
ser mudada e que os exames deveriam ser feitos impreterivelmente naquela data,
ou perderíamos o concurso. Além do constrangimento de ficarmos praticamente
nuas diante de 06 (seis) homens, que apesar de serem médicos, não souberam nos
deixar a vontade, fomos submetidas a diversos exames, em um deles, tínhamos que
caminhar na frente de um dos médicos (somente de calcinha e sutiã), em outro
ficávamos em pé com as pernas retas tocando o mais próximo possível do chão e o
médico ficava atrás observando a coluna, até mesmo durante a realização do
exame oftalmológico permanecemos de calcinha.
Algumas candidatas após ingressarem na Polícia Militar do
Estado de Sergipe entraram na justiça contra alguns oficiais médicos alegando
terem sido constrangidas durante o exame, recebendo elogios sobre o seu corpo
ou carinhos dados pelos médicos no rosto segundo eles na tentativa de
acalmá-las no momento, mas o fato logo caiu no esquecimento de todos.
Outros casos:
SD PFEM PM- Quando tinha menos de um ano de corporação
trabalhava no Policiamento ostensivo no centro da cidade quando pelo rádio, foi
solicitado que dois policiais se dirigissem ao QCG para uma missão, de pronto
uma policial feminina se ofereceu para a missão, no mesmo momento o Sgt. Fiscal
perguntou pelo rádio se P.fem serviria.
SD PFEM PM- No ano de 2008, eu trabalhava no HPM no setor
administrativo, por discordâncias com o diretor administrativo, o meu superior
imediato, um Capitão, foi retirado do setor, e como eu havia sido convidada por
ele ao setor também fui transferida do setor para a recepção do ambulatório com
a explicação dada pelo Diretor Geral de que aquele era serviço de mulher e por
isso eu iria ficar no lugar do sargento que cumpria tal função, além disso
sofri muitas humilhações por parte desse oficial, até hoje não me recuperei.
SD PFEM PM- Em 2007, ao cumprir uma escala extra num show na
Praça da Leste, sofri assédio de um colega de farda em pleno serviço, com
comentários e olhares dirigidos a mim por ele, que eram tão constrangedores que
o sargento comandante da guarnição em que eu estava foi até o militar chamar-lhe
a atenção para o seu comportamento, mas me repreendeu quando falei em informar
aos superiores.
SD PFEM PM- Nas eleições do ano de 2006 fui designada para
reforço do DPM em uma cidade do Interior, fazia muito calor e todos, homens e
mulheres, estávamos sem a gandola, ficando com a camisa branca, por notarmos os
olhares constrangedores de um cabo da delegacia em direção aos nossos seios, eu
e uma colega decidimos recolocar a gandola, mesmo sendo insuportável o calor na
ocasião, quando foi discutido onde dormiríamos, pois na delegacia não dispunha
de alojamento feminino, informamos que o diretor da escola havia nos
disponibilizado a sala dos professores para nós ficarmos com maior privacidade,
neste instante o mesmo cabo acima citado discordou alegando que todos deveriam
dividir o único alojamento que havia na delegacia, os superiores que estavam no
local notaram o acontecimento, mas não se manifestaram.
SD PFEM PM- A corporação não dispõe de alojamentos adequados
para as policiais, e os policiais masculinos não respeitam as poucas
instalações existentes, no início deste ano, março eu acho, estava trocando de
roupa no banheiro feminino do QCG quando adentrou um sargento. Sem ao menos
bater surpreendendo-me já tirando a roupa, o banheiro é bem sinalizado
informando que é feminino, não havendo justificativa para tal acontecimento,
comuniquei ao tenente do meu setor e ele disse que devia ter sido engano, que
eu deixasse para lá.
AL CFC PFEM PM- Por volta de 2008, eu trabalhava num PAC e o
serviço era de 24 horas, quando eu cheguei lá pela primeira vez, os colegas já
me alertaram sobre problemas no banheiro e na falta de alojamento. Havia apenas
um banheiro e mesmo assim tinha um buraco na porta o que impossibilitava o uso
por minha parte, as vezes os colegas se ofereciam para sair do posto, mas o
alojamento é um espaço 2x3m para ser dividido pelos 5 componentes da guarnição,
aliás seis, pois eu que chegava naquele momento não sabia como iria ficar minha
situação e passei a me banhar na casa de familiares, até o banheiro quando eu
precisava usar ia na casa de parentes, era constrangedor.
AL CFS PFEM PM- Quando abriram o concurso para sargento em
1997 e impediram a nossa inscrição senti meus direitos violados. Éramos
discriminadas diariamente na Companhia Feminina e como somos parte do quadro
combatente senti que mais uma vez seríamos deixadas de lado, entramos na
justiça e ganhamos em parte, mas fico triste quando os colegas e principalmente
superiores nos tratam de maneira pejorativa após tantas lutas e tantos anos
servindo a essa Instituição.
Fonte: Blog da ABSMSE e FAXAJU
0 comentários:
Postar um comentário